Uma reflexão sobre o grafite: a arte mal vista.
O grafite sempre foi visto com maus olhos e sendo sinônimo de vandalismo, mas porque isso acontece? Falta de informação aliada a ignorância perante as “novas artes”? É certo que o grafite tem sido visto como expressão artística e com ascensão latente, porém atitudes como a do prefeito de São Paulo de apagar, por três vezes, obras feitas por artistas brasileiros de renome internacional, refletem alguns paradigmas a serem superados.
A situação descrita aconteceu na grande São Paulo. O prefeito ordenou que se apagassem os grafites feitos por Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos. De renome e reconhecimento internacional, essa atitude reflete senão a falta de espaço para novas artes ou até a sua ignorância provinda do formato. Entretanto, se o valor não é dado por aqui, berço dos próprios artistas, ele vem de outro lugar, mais propriamente da Escócia. Em 2007, os filhos do conde de Glasgow convenceram o pai a mudar a fachada do castelo onde residem. Para isso contaram com uma equipe de brasileiros, entre eles Nina Pandolfo, Nunca e a dupla de gêmeos. O resultado foi tão positivo, que o conde levou oficialmente a proposta de deixar permanentemente a fachada colorida no castelo, pois como o é datado do século 13, precisa de aprovação para qualquer mudança tanto interior quanto exterior.
Outra possibilidade seria confundir grafite com pichação. É certo que a pichação deixou uma mancha difícil de ser apagada nas artes urbanas. Caracterizada como vandalismo e poluição visual, tanto por outros artistas como por pessoas comuns, o piche é normalmente associado a marginalização de disputa de gangues e sem apelo imagético significativo como o cuidado que o grafite tem. Por vezes não se consegue nem entender o que está escrito em uma pichação que também é utilizada como resultado de “poder” entre essas gangues. Por isso vemos sempre pichações em lugares inimagináveis e super altos, quem consegue esse feito, se destaca. Não há expressão e muito menos arte.
Embora utilizando das mesmas ferramentas, essa distinção entre essas duas “formas de expressão deve ser exaltada. Pichar em local público e sem autorização é crime e está na lei do artigo 65 dos crimes ambientais que estabelece punição de três meses a um ano de cadeia e pagamento de multa. Já o grafite conta com técnicas de qualidade sofisticadas e não propõem violar patrimônios publicos.
Com forte ligação com o Hip Hop, o grafite pega emprestado a forma de expressar as dificuldades dos menos favorecidos. Teve seu inicio no Brasil na década de 70 em São Paulo e não satisfeito com o estilo americano, desenvolveram técnicas próprias e “abrasileiraram”o grafite dando destaque ao traço brasileiro que se consolidou como um dos melhores do mundo. Relaciona-se também no teor de protesto, bastante utilizado nas obras grafitadas a fim de denunciar problemas da sociedade, tais como políticos.
Portanto, vale repensar e olhar por outros ângulos as cores e desenhos do grafite. É sem dúvida uma arte que transcende a pretensão única de expressão para ser também intervenção e protesto. Como o renomado grafiteiro Banksy que transforma sua arte em critica social ao subverter valores humanos.
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