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“É tipo um programa de rádio, só que na internet.”

 

Qualquer pessoa que precisou explicar para outra o que é um podcast, certamente já passou por uma situação parecida. Apesar de ser uma mídia com linguagem relativamente simples, explicar o conceito de podcast é mais difícil do que parece: seja para uma geração anterior, em que a referência ao rádio faria sentido, ou para os jovens tão visuais que provavelmente nunca sintonizaram uma estação na vida, a pergunta a ser respondida é sempre a mesma: afinal de contas, o que é um podcast?

O QUE É?

Com a popularização em massa da internet e avanço galopante da Web 2.0, os fóruns e páginas estáticas não supriam mais as tendências dos usuários. Se na internet do começo dos anos 2000, sem Youtube, e com conexões consideravelmente mais lentas, eram os blogs que davam as cartas, crescia também a necessidade de uma nova mídia, de assimilação mais fácil e que não demandasse muita banda. O salto mais importante para a adesão da mídia, porém, acontece no lançamento do primeiro iPod e do iTunes, quando de uma vez só o mercado recebe um ótimo reprodutor para essa mídia e o local onde a comunidade poderia florescer.

Deu certo. A mídia pegou e dela surgiram novos influenciadores, e até gente de fora apostando no formato. Conan O’Brien tem seu podcast, o The New York Times também, e em 2015 até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi até a casa de Marc Maron participar de uma gravação. Ou seja, a tendência massificou e começou a influenciar diretamente a cultura pop americana.

MAS E O BRASIL?

A verdade é que não dá para dizer que o formato nunca pegou. No ar semanalmente desde 2006 e com mais de 650 episódios publicados, o Nerdcast sempre foi sinônimo de podcast no país. Com mais de 1 milhão de downloads por episódio, e dezenas de anunciantes, o programa é certamente um dos mais populares do mundo. Mas mesmo com esse potencial, a comunidade podcaster nunca explodiu por aqui, e os motivos podem ser os mais diversos: distribuição descentralizada, produção mais complexa e migração passiva para o Youtube.

As coisas só começaram a mudar nos últimos anos com a chegada do Spotify. A empresa sueca, maior distribuidora de música por streaming do mundo, resolveu apostar também nos podcasts e o Brasil foi um dos maiores beneficiados. Em pouco tempo as coisas cresceram exponencialmente, até surgir a primeira produtora de podcasts do país, a Half Deaf. Com maior demanda pela mídia, não demorou para surgirem grandes programas em todos os segmentos, seja entrevistas, cultura pop, futebol, cinema, história, política e etc.

 

TÁ, MAS E PARA NEGÓCIOS?

Ainda pouco explorado, o mercado de podcasts deve crescer como nunca em 2019 e encerrar a década em alta. Capaz de reter ouvintes por horas, essa mídia gera uma fidelidade incomum nos dias atuais, dessa forma o retorno de uma campanha em um programa pode ser melhor segmentada, alcançando o resultado desejado com investimentos menores. Relatórios já revelaram que ouvintes de podcasts nos Estados Unidos são jovens-adultos, escolarizados e que ganham bons salários, consumindo em média cinco horas por semana, superando as estatísticas de pessoas do mesmo grupo demográfico assistindo televisão. Ou seja, talvez o seu publico alvo esteja ouvindo podcast enquanto você investe em outra mídia.

Agora que você já sabe o que é um podcast, a Clan da Criação separou cinco programas incríveis para ouvir enquanto prepara aquele briefing esperto aí no seu trampo. Bora lá?

 

PROJETO HUMANOS

Projeto Humanos é um programa idealizado por Ivan Mizanzuk que busca explorar um formato ainda pouco conhecido no Brasil, o storytelling, popularmente utilizado em podcasts dos EUA como Radiolab, This American Life e Serial. É como se fosse um documentário em formato de áudio e distribuído na internet. Aproxima-se de práticas conhecidas no país como jornalismo narrativo e/ou literário.

 

FICÇÕES

Um podcast sobre narrativa filosóficas. A proposta é analisar os discursos filosóficos sobre o cotidiano como sendo construções, invenções e não verdades.

 

MEIA HORA SOZINHO

O Meia Hora Sozinho é um podcast muito parecido com final daquele filme 8 mile do Eminem saca? Só que ao invés do Eminem é o Alexandre Nickel falando sozinho durante meia hora. Mas nem sempre é meia hora e nem sempre é sozinho. Na verdade também não tem muito a ver com o final do 8 mile. Acho que deu pra entender né?

 

ESQUIZOFRENÓIAS

Amanda Ramalho apresenta o Esquizofrenoias, um programa sobre desgraçamentos mentais e muita informação sobre saúde mental.

 

PAPO TORTO

PC Siqueira, Gus Lanzeta, Julio Pacheco e convidados em conversas que passam da filosofia a memórias sobre brinquedos antigos sem esforço algum. Com irreverência e um módico de substância, comentam desde acontecimentos recentes, filmes, jogos e músicas como ideologias, questões existenciais e respondem dúvidas dos ouvintes.

Nos últimos anos, o universo on-line trouxe muitas transformações para o nosso cotidiano, desde a vida pessoal até a profissional. 2018 não será diferente, ainda mais se você pensar que teremos dois episódios importantes: as eleições presidenciais e a Copa do Mundo.

Mas, afinal, o que esperar das mídias digitais? Como devemos atuar? No que podemos apostar? Para saber as respostas dessas e outras perguntas, vem com a gente desbravar as tendências deste ano que está só começando.

 

1- Investir e gerenciar

Recentemente, o Facebook formulou uma nova regra, ainda em teste, que irá priorizar postagens de amigos e menos de anúncios. Tudo leva a crer que o alcance orgânico (porcentagem de publicações que não pagam para atingir usuários) das empresas, que de tanto reduzir atualmente chega a 2%, irá cair ainda mais. Alcançar a audiência do feed de notícias, em 2018, precisará de investimento e gerenciamento, porque não vai bastar só pagar, será necessário que o conteúdo seja atrativo o suficiente para engajar as pessoas.

 

2 – Tem que ter conteúdo audiovisual

Você lembra quando foi a última vez que entrou em alguma rede social e não viu nenhum vídeo? Se ficou pensativo é porque, provavelmente, não lembra. Fato é que os conteúdos audiovisuais tomaram conta do on-line. Em 2018, a tendência fica mais forte. Conforme a revista Forbes, somente no Facebook meio bilhão de pessoas consomem vídeos todos os dias. Com toda essa quantidade é possível que os usuários fiquem saturados, no entanto o desafio para o marketing empresarial é aproveitar esta ferramenta da melhor forma, com estratégia e muita criatividade fora da caixa.

 

3 – Focar no mobile

Que o número de pessoas com smartphone cresce a cada ano você sabe. Mas já parou para pensar o que isso significa? Quer dizer que, ainda em 2018, 2,4 bilhões de indivíduos estarão ativos nas redes por meio do mobile. De acordo com a Forbes Brasil, cerca de 84% da receita do Facebook vem deste modelo de propaganda. Isso significa que a maioria dos usuários de mídias sociais estão apenas em seus celulares. Daí a importância de desenvolver conteúdos focados no formato mobile e entender os hábitos do consumidor, até porque o call-to-action (chamada para ação) pede um imediatismo que cabe unicamente na palma das mãos.

 

4 – Conteúdo efêmero é oportunidade

Depois da chegada do Snapchat, redes sociais como o Facebook e Instagram também entraram na onda do Stories, que fica no ar somente por 24 horas. Esses são os conteúdos efêmeros, pois criam senso de urgência no usuário, que tem apenas este curto tempo para visualizar as histórias. A estratégia é chamada de “fear of missing out” (medo de perder) e o objetivo é engajar as pessoas, que possuem aquele momento para vivenciar e compartilhar o conteúdo. Por serem feitos de forma rápida, a autenticidade é um valor que, se transmitido junto, pode gerar bons resultados, pois demonstra a realidade da empresa, estreitando o elo entre a marca e o público.

 

5 – Muito prazer, WhatsApp Business

Voltado para as pequenas e médias empresas, o novo aplicativo WhatsApp Business tem recursos para facilitar a vida dos empreendedores que atendem seus clientes pelo smartphone. Os principais recursos são:
Mensagens rápidas – é possível configurar atalhos para criar textos de agradecimento, mensagens para períodos em que você estiver ausente ou de apresentação.

Perfil – é o cartão de visitas para os consumidores que chegarem até você por meio deste canal de comunicação. Informações como endereço, site oficial, segmento, e-mail e horário de trabalho são campos que a ferramenta dispõe para o usuário.

Métricas – embora básico, dá para ver os dados sobre mensagens enviadas, entregues, lidas e recebidas.

Etiquetas – para facilitar a identificação de cada mensagem, o aplicativo tem uma função de etiquetas. Marcadores como “pago”, “novo cliente”, “pagamento pendente”, são algumas opções oferecidas, mas você pode adicionar novas etiquetas.

 

E você, de qual tendência mais gostou? Não fique só olhando, saia na frente e aposte no que há de mais atual em marketing digital para o seu negócio. Não sabe como? Vem falar com a gente! 

Coisa boa é começar o ano com um case de sucesso. No dia 27 de janeiro o Sabor de Chocolate fez aniversário de 25 anos, com um evento em sua loja que superou as expectativas de público e vendas.

A nossa parceria começou há pouco menos de um ano. Com reuniões mensais lá e aqui alcançamos bons resultados por meio do marketing digital de resultados e planejamento estratégico de conteúdo para mídias sociais.

Sempre focados nos produtos de comer com os olhos que são confeccionados diariamente na cozinha da loja, produzimos audiovisuais e fotos com gradual engajamento de usuários do Facebook e Instagram.

Atingir metas acentuadas exige atendimento qualificado e pronto para atender as necessidades de cada negócio. Para aproximar ainda mais o Sabor de Chocolate de seus clientes, criamos um canal direto via WhatsApp. Assim os apreciadores da marca ficam sempre por dentro das novidades deliciosas.
Até aqui, nossa missão foi cumprida: proporcionamos ao nosso cliente toda a visibilidade, no digital, que suas confecções de altíssima qualidade merecem, alavancamos as vendas e fizemos valer a pena o investimento feito.

Só temos mesmo é que comemorar. Um brinde a 2018 e que com ele venham muitas outras histórias de satisfação.

E você, como sua empresa está posicionada nas mídias digitais? Está preparado para as mudanças deste ano? Sabe o quanto podemos te ajudar a desenvolver o seu negócio utilizando as ferramentas de marketing digital? Não fique em dúvida, vem bater um papo que a gente te ajuda a encontrar as melhores soluções para o seu negócio.

Você já se perguntou por que os líquidos usados nas simulações de propagandas de absorventes são azuis e não vermelhos cor de sangue? Será que existe uma convenção imaginária que induz todos os publicitários a sempre usarem azul e não a cor real? Será que esse paradigma é algo natural ou será que há um interesse por trás da manutenção dessa visão envergonhada acerca da menstruação? A marca britânica de absorventes Bodyform decidiu ser a primeira do seu país (quiçá do mundo) a confrontar essa predisposição com a campanha #bloodnormal.

Nela, a partir de imagens muito bem elaboradas, a marca confronta o tabu que envolve a menstruação e utiliza um líquido vermelho ao invés de azul. Tem ainda uma cena com fio de sangue escorrendo de uma perna feminina durante o banho. Não é a primeira vez que a marca busca gerar essa reflexão: ano passado também lançou um vídeo com mulheres praticando esportes extremos como escalada e boxe, sujas de sangue, suor e lama. Geralmente a publicidade cria e se adapta bem aos tabus, tão bem que é difícil identificá-los. Quando uma empresa decide se expor a fim de gerar uma reflexão genuína, devemos depositar no mínimo alguma atenção ao tema.

O filósofo Michel Foucault (1926 – 1984) apresentou em 1970, durante sua aula inaugural no Collége de Franc e posteriormente no livro Ordem do Discurso, a análise da relação entre os discursos do nosso cotidiano e o poder. Segundo ele, é controlando os nossos discursos que as instituições mantêm o poder. Foucault apresenta a hipótese de que, em toda sociedade, a produção de discursos é controlada com o objetivo de: exorcizar os poderes e os perigos; diminuir a força de eventos incontroláveis; esconder as reais forças que materializam a constituição social. Os conceitos de Foucault serão aqui apresentados muito brevemente. Existem outros sistemas e classificações. A teoria não abrange as novas mídias digitais, onde os discursos não tem o mesmo controle. Entretanto, a mídia de massa e os grandes veículos são ainda os maiores influenciadores da opinião pública e controlam a produção de discursos com interesses bem específicos.

Segundo o autor, são excluídos aqueles discursos que vão contra a ordem vigente, sendo que esse controle ocorre em duas esferas: interna e externa. Na primeira, há os “procedimentos de controle e delimitação do discurso”, que é quando o discurso pode ser dito mas esbarra em processos internos de controle, que são três:

Comentário: tudo o que falamos já foi dito uma ou outra vez, porém de forma diferente, com outras palavras. Nós sempre estamos remetendo a outros discursos. Pode até parecer uma coisa nova, mas sempre vai haver uma repetição.

Autor: basicamente remete à limitação que o discurso tem de acordo com individualidade do autor. O autor nesse caso não é necessariamente quem produziu o discurso, pode ser alguém que reproduz um recorte desse discurso, por exemplo.

Disciplina: essa refere-se às regras e verdades preestabelecidas de cada área. Foucault usa o exemplo de Mendel, criador da teoria da hereditariedade, que não foi aceita inicialmente por chocar-se com as concepções biológicas vigentes. Obviamente, essas regras podem mudar de acordo com o tempo, o lugar, mas é difícil isso acontecer pois quem domina as regras pode controlar quem participa do discurso.

Existe, porém, as formas de controle externos que o autor chama de “sistemas de exclusão”. São principalmente nelas que se encaixam os tabus discursivos inerentes à publicidade. Também ocorrem em três sistemas:

Vontade de verdade: ter um discurso tido como verdade é também ter poder. Por isso todo mundo quer produzir um discurso aceito. Nem precisa ser de fato verdadeiro, se passar por tal já é suficiente. Sempre houve em nossa cultura uma dicotomia entre certo e errado, que foi responsável pela vontade de saber.

Oposição entre razão e loucura: geralmente aquele discurso que vai de encontro às demais interdições se classifica aqui. Segundo Foucault, “louco é aquele cujo discurso não circula como o dos outros”. É um discurso desmoralizado, sem crédito, assumindo em casos específicos uma áurea profética.

Interdições:é onde o discurso publicitário é mais afetado. Dentre as várias possíveis classificações desse sistema, Foucault especifica três:

– A palavra ou objeto: é aquele termo, imagem ou assunto inconveniente ou mesmo proibido. Tal como o sangue na propaganda de absorvente, sexualidade ou política, por exemplo.

– Ritual: há discursos que só podem ser proferidos em eventos ou circunstâncias específicas.

– Direito privilegiado: é o discurso que somente pode ser proferido por indivíduo(s) específico(s).

Essas barreiras influenciam na potência e abrangência do discurso. São elas que sustentam os tabus. Esses por sua vez prejudicam em grande escala a discussão necessária sobre as relações humanas (ou mesmo as próprias relações). Por que muitas mulheres têm repulsa do próprio sangue menstrual mas toleram o sangue oriundo de ferimentos? O estranhamento acerca do cheiro, da cor e da textura desse tipo de sangue indica que as mulheres o identificam como algo alheio ao seu corpo e isso influencia na forma como lidam com ele cotidianamente. O silêncio que cerca o assunto pode prejudicar a saúde das mulheres. Muitas vezes, e principalmente em países de renda média e baixa, não se falam com meninas sobre menstruação antes que aconteça pela primeira vez.

Trocar mais informações e experiências, por exemplo, evitaria a confusão entre um sangramento saudável e um sangramento anormal. O tabu é uma negligência e quem tem voz deveria falar sobre isso. É como ressalta o “pai da publicidade” David Ogilvy: “a publicidade se justifica quando utilizada em favor do interesse público — é uma ferramenta poderosa demais para ser usada somente para fins comerciais.”. Num mercado tão competitivo, parece difícil às vezes deixar de lado o interesse nas vendas, mas é uma responsabilidade que requer profissionais utópicos e realmente bem intencionados.

Vídeo da campanha:

Referências:

www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/19/Por-que-uma-marca-de-absorvente-decidiu-mostrar-‘sangue’-em-seus-anúncios

http://ideiasedesaforos.blogspot.com.br/2007/09/ordem-do-discurso.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_do_Discurso

Entre o efeito manada e os discursos de ódio existe uma grande responsabilidade dos formadores de opinião.

 

Entender a crise que desconforta qualquer brasileiro minimamente consciente das incoerências vividas pelo país, nos âmbitos político e econômico, vai muito além de uma análise da política e da economia. O que mais preocupa, ao menos no ponto de vista desse que vos escreve, é a crise na esfera da moralidade social.

A medida em que a militância virtual abrangeu a participação nas discussões políticas, evidenciou também uma face sombria do comportamento social. A superação da timidez, mediada pela segurança que um aparelho com acesso à rede proporciona, faz emergir as mais variadas formas de intolerância e discursos de ódio. O clima de insatisfação política, dicotomia ideológica (direita x esquerda) e despautério discursivo, nos dão a impressão de que os valores humanos pouco evoluíram desde o século passado.

Abandonando um pouco as preocupações relacionadas ao destino que nos aguarda, eleva-se a questão: como chegamos até aqui? É evidente que alguém ou alguma coisa fomenta esse espectro neofascista, que agora mostra seus dentes com raiva e confiança. Seria difícil apontar somente um precursor desse fenômeno tão complexo, num ambiente tão multiforme como o Brasil. Mas, certamente, há uma influência indeterminada dos chamados “formadores de opinião” na relação dos indivíduos com o senso coletivo. Entender como reagimos à autoridade de “especialistas” pode nos dar algum parâmetro sobre a questão.

Nesse sentido, é válido mencionar o experimento do psicólogo e sociólogo polonês Salomon Asch durante a década de 1950, que consistia em inserir um voluntário numa sala com 7 outros supostos voluntários (que na verdade eram atores) para um teste de acuidade visual. Eram apresentadas duas figuras, a primeira com uma linha vertical e a segunda com três linhas, e as pessoas na sala deveriam dizer qual linha da segunda imagem tinha o comprimento semelhante com o da primeira, conforme a imagem abaixo:

O teste era simples e a resposta certa era óbvia, a estimativa de respostas erradas nesse tipo de teste é de menos de 1 em 35 (menos de 3%). Porém, os resultados foram assombrosos. O que o estudo de Asch realmente queria avaliar era o efeito da pressão social na conformidade, numa época em que as telecomunicações experimentavam crescentes avanços e, desde então, já havia a preocupação do poder de influência que a mídia poderia exercer na população.

Imagine que você é o voluntário real, que era sempre um dos últimos a responder. As duas primeiras perguntas eram respondidas corretamente por todos, pra te deixar mais a vontade. A partir da terceira pergunta o primeiro avaliado dava uma resposta claramente errada. Você pensa “que idiota”. Mas ai o segundo também erra, e depois o terceiro, e todos erram até chegar em você, que confia na sua visão e dá a resposta que lhe parece evidente. Todos olham para você. Muito estranho.

Na rodada seguinte a mesma coisa. A medida que você, voluntário, respondia corretamente, contrariando os demais, todos o olhavam. Você tem certeza da resposta, mas como podem todos estarem errados e você estar certo? Na próxima rodada você já não tem tanta certeza, começa a ficar angustiado e se perguntar se sua visão está realmente boa. É constrangedor responder diferente de todo mundo. Você passa então a errar de propósito, só pra não discordar dos demais.

Como e até que ponto as forças sociais moldam as opiniões e atitudes das pessoas? Foram 123 voluntários reais que participaram da pesquisa, dos quais: 75% escolheram a alternativa errada ao menos uma vez; 37% erraram a maioria das respostas; 5% deles acompanharam a opção incorreta todas as vezes. O teste também mostrou que a discrepância do erro não interferia no resultado. Ou seja, o absurdo do erro não diminuía a taxa de adesão do participante à unanimidade do grupo.

Outro teste, ainda mais estarrecedor, foi realizado pouco tempo depois por um discípulo de Salomon Asch, o psicólogo americano Stanley Milgram. Ele fez parte da equipe que realizou o experimento mencionado acima. O que sua pesquisa revelou foi o assustador comportamento que transforma pessoas comuns em malvados algozes, capazes das maiores atrocidades.

Milgram acreditava que qualquer situação potencialmente persuasiva poderia levar pessoas comuns a abandonarem seus princípios morais e cometerem as piores barbaridades. E em 1961 seu experimento provou isso. Imagine-se novamente convidado, através de um anúncio de jornal que oferecia na época US$4,50 aos interessados, para uma experiência que mediria, dessa vez, a interferência da punição nos processos de aprendizagem.

Tendo aceito, você se encaminharia a um laboratório da Universidade de Yale onde um sério pesquisador num imponente jaleco cinza lhe explicaria os procedimentos: um sorteio definiria quem seria o Professor e o Aluno. O primeiro faria uma série de perguntas pré-definidas ao segundo e, a cada erro, um choque elétrico de pequena intensidade (15 volts) seria aplicado através de uma máquina acionada pelo próprio Professor. A cada erro a carga a aumentaria em 15 volts, até o limite de 450 – uma carga perigosa e potencialmente fatal.

No sorteio você é determinado à função de professor, se livrando da possibilidade de ser eletrocutado. O pesquisador (na verdade um ator) amarra o aluno (outro ator) numa cadeira onde os eletrodos são conectados. Antes de começar você recebe uma carga mínima de 45 volts, somente a título de curiosidade, uma incômoda agulhada que não lhe causa nenhum dano. Você é levado então a uma sala onde encontra-se um aparelho com trinta botões enfileirados, cada um com uma potência diferente de choque. Pronto! Vamos começar a experiência.

Você inicia uma série de perguntas, das quais o aluno acerta as primeiras. Depois começa a errar e o pesquisador lhe ordena que aplique, progressivamente, as descargas. Você começa a ficar apreensivo com os gritos e gemidos que vem da sala ao lado, afinal você é quem está infligindo aquela dor a uma pessoa que nem conhece. 90, 105, 120, 135, 150, 165, 180 volts… os gritos ficam cada vez mais intensos, suas mãos começam a suar, seu estômago se contrai. 225 volts e o aluno começa a chutar a parede, ele pede pra sair. Nessa altura você também pede pra sair, mas o pesquisador com autoridade apenas profere: continue! 325 volts e você está completamente desconfortável e pede novamente ao pesquisador para interromper a sessão. Este dessa vez lhe diz: é preciso que você continue, os choques não causam nenhum dano permanente aos tecidos.

Por volta dos 405 volts o aluno já nem responde. O pesquisador diz: a ausência de resposta deve ser interpretada como erro, prossiga. Assim você libera as três últimas descargas e pensa que poderia ser você no lugar do estranho do outro lado da parede, apenas um sorteio definiu que não seria você a ser amarrado na cadeira. Felizmente, era tudo uma encenação, cujo único desavisado era o voluntário no papel de professor.

O único que tomou um choque real foi você, naquela amostra grátis do início. E os reais objetivos do experimento eram ver em que momento o voluntário manifestaria pela primeira vez seu desejo de encerrar sua participação na pesquisa, e ao ser submetido à autoridade do pesquisador, verificar qual o seu limite final. Esse tipo de experimento não é mais permitido hoje em dia, pois levanta sérias questões éticas e inflige uma séria angústia aos voluntários.

Milgram, em sua estimativa a partir da opinião de outros estudiosos, imaginava que 1,2% dos participantes iria até o fim. Entretanto, deparou-se com a assustadora obediência de 26 dos 40 voluntários. Nada menos que 65%. Nenhum desistiu antes dos 300 volts. O mais impressionante é que não havia nenhum motivo aparente para essa obediência a uma suposta autoridade que fora estabelecida minutos antes do experimento começar. Não havia nenhuma razão anterior que sugerisse a obediência do voluntário com o pesquisador.

Vamos voltar para nossa realidade, para os discursos de ódio e para os influenciadores. O que a história e a psicologia social nos mostra é uma grande proximidade entre civilidade e a barbárie. O Brasil foi marcado durante muito tempo por um contexto social autoritário, e ainda hoje é predominante a autoridade exercida por jornalistas, políticos e outras figuras públicas. Essa ambiência de ódio maniqueísta é, em grande parte, responsabilidade dos comunicadores formadores de opinião que se aproveitam do clima de ódio para se autopromoverem, utilizando um discurso que legitima qualquer incoerência a fim de derrotar o inimigo público do momento.

Isso vem alimentando o fantasma do discurso fascista, e detrimento da opinião de pessoas que acreditam estarem no meio de uma crise terrível. Porém, os estragos da incursão nazifascista pela Europa demonstram os perigos de cutucar certas ideias, principalmente em vista de objetivos mesquinhos, como vencer esse ou aquele inimigo eleitoral. Os registros mostram que a punição é severa àqueles que se abraçam com o que há de mais sombrio na humanidade, a fim de alcançar interesses pessoais. A opinião pública não pode ceder a esses interesses. É indispensável aplicar uma dose de autonomia cognitiva, desde as raízes do sistema educacional, para revertermos esse quadro de incerteza moral. É preciso o envolvimento de todos interessados em incentivar a autonomia de opinião num país ideologicamente tão fragilizado.